O que é a doença?
As doenças inflamatórias intestinais (DII) são doenças crónicas do tubo digestivo, sem cura e imunomediadas. As DII englobam três entidades distintas: Doença de Crohn, Colite Ulcerosa e Colite não classificada (quando não é possível fazer a distinção entre as duas primeiras). É frequentemente diagnosticada em idade jovem, tendo um importante impacto na qualidade de vida. Embora a sua causa ainda não esteja bem definida, parece resultar de uma complexa interação entre vários fatores (genéticos, ambientais, sistema imunitário e flora intestinal) que levam ao desenvolvimento de inflamação crónica no intestino.
Estas doenças têm em comum a presença de inflamação crónica do trato gastrointestinal, embora também apresentem diferenças. A Colite Ulcerosa atinge apenas o reto e o cólon (intestino grosso), sendo que o processo inflamatório habitualmente se estende de forma contínua do reto ao cólon e restringe-se à camada mais interna do intestino (também denominada de mucosa). Por sua vez, a Doença de Crohn pode atingir qualquer segmento do tubo digestivo, desde a boca até ao ânus, de forma descontínua, intercalando zonas de inflamação com zonas saudáveis. Na doença de Crohn a inflamação estende-se a todas as camadas do tubo digestivo, o que poderá condicionar o aparecimento de complicações como estenoses (“apertos” do lúmen intestinal), fistulas e abcessos nas áreas afetadas.
Que sintomas?
A gravidade dos sintomas é variável e depende do tipo de DII, da área do tubo digestivo afetada e da intensidade da inflamação. A doença pode manifestar-se forma insidiosa e subtil, o que leva a um atraso no diagnóstico e consequente progressão da doença.
Na Colite Ulcerosa o sintoma mais frequente é a diarreia com sangue, incluindo durante a noite, estando presente em 80% dos casos. Outros sintomas que podem surgir são: fezes com muco, dor abdominal tipo cólica, urgência fecal e tenesmo. Nas formas mais graves da doença, que ocorrem em 30% dos doentes, podem estar presentes sintomas sistémicos como febre, anemia e perda de peso.
Na Doença de Crohn os sintomas mais comuns são dor abdominal, perda de peso e diarreia (embora a presença de sangue e muco nas fezes seja menos frequente que na Colite Ulcerosa). Pode ainda existir anemia, perda de peso, anorexia, vómitos e náuseas. Caso haja envolvimento do intestino delgado, a capacidade de absorver os nutrientes poderá ficar comprometida e consequentemente poderá surgir síndrome de má absorção com consequente desnutrição. Outra manifestação clínica muito mais frequente na Doença de Crohn do que na Colite Ulcerosa é o envolvimento perianal (doença do ânus e reto), nomeadamente fístulas e abcessos, que afetam 30% dos doentes com Doença de Crohn e que em 10% pode ser a manifestação inicial da doença. Nestes casos, os sintomas serão dor perianal, drenagem de conteúdo mucopurulento, febre e dor durante as relações sexuais. Esta forma de manifestação da doença tem um impacto negativo significativo na qualidade de vida.
Tanto na Doença de Crohn como na Colite Ulcerosa poderão surgir manifestações extraintestinais, ou seja, envolvimento de outros órgãos além do trato gastrointestinal, devido ao processo inflamatório. Nestes casos, o sistema mais afetado é o articular, com o aparecimento de artropatias periféricas (envolvimento das articulações das mãos, joelhos, tornozelos) e artropatias axiais (envolvimento da coluna lombar e articulações sacroilíacas), que se manifestam por dores articulares inflamatórias (mais intensas de manhã e que melhoram com o movimento). Outras manifestações extraintestinais frequentes são o envolvimento da boca (aftose oral com úlceras da boca), da pele, nomeadamente o eritema nodoso (lesões da pele que surgem como nódulos, vermelhos e dolorosos sobretudo nas pernas), dos olhos, do fígado (por exemplo a colangite esclerosante primária que pode evoluir para cirrose hepática) e do pâncreas. Nos casos mais raros pode ainda haver envolvimento pulmonar, neurológico e cardíaco. Os sintomas que surgem devido a este envolvimento extraintestinal podem ou não coincidir com a atividade inflamatória da doença.
Que exames?
Não havendo um método único e capaz de por si só estabelecer o diagnóstico das DII, o diagnóstico destas doenças implica avaliação clínica, análises ao sangue e às fezes e exames endoscópicos, nomeadamente colonoscopia com biópsias. Na doença de Crohn também será necessário a realização de um exame imagiológico (como tomografia computadorizada ou ressonância magnética do intestino delgado) e/ou videocápsula endoscópica para avaliar a extensão e gravidade da doença ao nível do intestino delgado. No caso de haver envolvimento perianal será necessário a realização de ressonância magnética pélvica. Como se trata de uma doença crónica, existe a necessidade de repetir os exames complementares. Estes fornecem informações acerca do estado e gravidade da doença que, aliado aos sintomas, são a base para a otimização do tratamento da doença.
Autoria
Young GEDII: Paula Sousa, Joana Roseira, Maria Manuela Estevinho, Sónia Bernardo
Ana Catarina Carvalho (Centro Hospitalar Tondela-Viseu),
Sofia Ventura (Centro Hospitalar Tondela-Viseu),
Francisco Pires (Centro Hospitalar Tondela-Viseu),
Cláudio Rodrigues (Centro Hospitalar Tondela-Viseu),
João Correia (Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho),
Edgar Afecto (Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho),
Juliana Serrazina (Hospital Santa Maria – Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte),
João António Cunha Neves (Centro Hospitalar Universitário do Algarve),
Viviana Alexandra Sequeira Martins (Centro Hospitalar Universitário do Algarve)
Para mais informações, aceda às páginas das associações portuguesa e europeia dos portadores de Doença Inflamatória Intestinal: