Os meus doentes com Doença Inflamatória Intestinal (DII) fazem – me muitas perguntas relacionadas com a dieta. Tenho que fazer uma dieta especial? Vou ter que fazer dieta para o resto da vida? Que dieta devo fazer para evitar voltar a ter agudizações?
Eu costumo responder “pode comer tudo com o que se sinta bem” desde que coma saudável. Penso que este último ponto é muito importante: ter uma dieta saudável, equilibrada tendo como objetivo manter um bom estado nutricional.
As respostas que obtenho são variadas, alguns doentes sentem-se bem sem restrições dietéticas, outros pelo contrário argumentam que, com determinados tipos de alimentos, principalmente lacticínios e vegetais, ficam com dores abdominais e aumento do número de dejeções. A estes costumo explicar que estes sintomas, na maioria das vezes, não têm relação com a sua DII, mas são sintomas funcionais que muitas vezes são resolvidos com pequenas alterações da dieta.
Penso ser muito importante aquando do diagnóstico da DII e sempre que o médico ache que se justifica, que os doentes sejam observados por um nutricionista com experiência na área.
Em que altura, a implementação de uma dieta mais restritiva, com baixo valor de lactose e fibras, está indicada?
Nas fases de agudização da DII.
O porquê da restrição destes grupos de nutrientes em especial?
Em qualquer situação de diarreia aguda pode haver uma intolerância transitória à lactose, o que por si só, pode levar ao agravamento do quadro de diarreia e dor abdominal por um lado; por outro lado, as fibras presentes nos vegetais, frutos e leguminosas aceleram o trânsito, contribuindo tambémpara o aumento do número de dejeções.
Portanto, e esperando ter respondido em parte à pergunta que me foi feita, comam de forma saudável e com o menor número de restrições dietéticas possíveis.
Vamos agora ver como uma Nutricionista responde à questão?
A ocidentalização da dieta, com a inclusão do fast food e de alimentos processados, para além de provocar o aumento da prevalência de obesidade, parece também afetar negativamente a saúde intestinal, uma vez que tem sido associada a um maior risco de doenças inflamatórias intestinais, nomeadamente a Doença de Crohn e Colite Ulcerosa.
Apesar de não existir uma dieta específica para a Doença Inflamatória Intestinal, é sempre importante salientar a necessidade de manter uma alimentação saudável e equilibrada, livre de alimentos processados e rica em frutas e legumes. As fibras presentes nas frutas e legumes são essenciais para uma flora intestinal diversificada, servindo também de substrato para as bactérias intestinais produzirem ácidos gordos de cadeia curta que são essenciais para a saúde dos intestinos.
No acompanhamento de doentes com Doença Inflamatória Intestinal, a alimentação deve ser ajustada à tolerância individual e tem por objetivo manter ou melhorar o estado nutricional, evitar carências de vitaminas e minerais e promover a qualidade de vida. Durante a agudização da doença pode ser necessário a modificação do regime alimentar, com vista à minimização de sintomas (ex. limitação na ingestão de fibras, lactose, abordagem Low FODMAP) e à cicatrização da mucosa intestinal (dieta anti-inflamatória com nutrição entérica parcial ou exclusiva). Contudo, é de salientar que as modificações na dieta 1) apenas devem ser feitas após o diagnóstico de Doença Inflamatória Intestinal, uma vez que podem mascarar sintomas e assim dificultar o diagnóstico; e 2) pressupõem sempre uma progressão para um padrão alimentar saudável.
Assim sendo, na Doença Inflamatória Intestinal, a dieta deve ser adaptada a cada doente, tendo em conta, entre outros, a tolerância individual aos alimentos, sintomas e evolução da doença (remissão vs. doença ativa).
Autoria Comissão de Nutrição: Paula Moura Santos, Flávio Pereira, Sónia Velho
Para mais informações, aceda às páginas das associações portuguesa e europeia dos portadores de Doença Inflamatória Intestinal: