Cerca de 1/3 dos doentes com colite ulcerosa apresentam doença limitada ao reto (~15 cm de extensão) 1. A proctite ulcerosa é frequentemente vista como o fenótipo mais ligeiro da colite ulcerosa, devido à menor extensão da mucosa acometida e à perceção de menor complexidade terapêutica, frequentemente controlada apenas com tratamento tópico. De facto, a maioria apresenta o curso de doença indolente após controlo com terapêutica tópica. Além disso, foi descrito um menor risco de hospitalização e necessidade de colectomia, em comparação com a colite distal e extensa 2,3.
No entanto, o impacto sintomático desta forma mais limitada pode ser semelhante às doenças mais extensas 4. Para além das retorragias, estes doentes podem apresentar sintomas relacionados com disfunção ano-retal como urgência defecatória e tenesmo. Paradoxalmente podem também ocorrer obstipação, em vez de diarreia. Adicionalmente, existe um risco de extensão da doença, estimado entre 20 e 50% ao longo do tempo. Quando esta extensão ocorre, tende a associar-se a um pior prognóstico, com evolução mais agressiva e maior necessidade de terapêuticas avançadas 5,6.
No que diz respeito ao tratamento, a messalazina tópica constitui a terapêutica de primeira linha. Importa relembrar alguns aspetos práticos: os supositórios apresentam maior persistência no reto e são melhor tolerados que os enemas; a aplicação ao deitar permite reter o supositório durante mais tempo e não há benefício em ultrapassar a dose de 1g/dia. Em casos em que a resposta seja inadequada, poderá ser necessária a associação de messalazina oral ou de corticoides tópicos 7. Se a doença se mantém ativa apesar de todas estas medidas, estamos perante uma proctite refratária.
Considerando que os pacientes com proctite são frequentemente excluídos dos ensaios clínicos, a evidência que orienta o tratamento nestas situações baseia-se, em grande parte, em estudos retrospetivos ou em extrapolações de dados obtidos em colites de maior
extensão. Diversos estudos demonstraram taxas de remissão clínica com agentes anti-TNF e vedolizumab na ordem dos 50 a 70% 8. O tofacitinib também revelou eficácia numa população com proctite altamente refratária, com remissão clínica observada em aproximadamente 40% dos casos. Mais recentemente, o etrasimod incluiu doentes com proctite ulcerosa nos ensaios clínicos que sustentaram a sua aprovação para o tratamento da colite ulcerosa.
Autoria: Young GEDII
Tiago Leal, Francisco Vara Luiz, Maria José Temido, Raquel Oliveira
Referências bibliográficas
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